top of page
  • Nômade

Como cultivar aprendizado constante em um contexto de cansaço e desatenção?


Recentemente publicamos um texto sobre Lifelong Learning, conceito que tem sido utilizado em contextos de aprendizagem no mundo corporativo. Por meio dele, são abordadas as necessidades e as vantagens de se estabelecer um processo de constante aprendizado ao longo da vida. Esse processo inclui aspectos profissionais e demandas de adaptação a um mundo globalizado e em contínua evolução tecnológica, mas também abarca a possibilidade de crescimento pessoal. Contudo, temos sido realmente capazes de cultivá-lo em meio ao cansaço e à constante exposição à estímulos do cotidiano?


Contexto


A ideia de Lifelong Learning ou aprendizagem constante tem sido um tema central para a Unesco desde a publicação de Learning to be em 1972, tendo se fortalecido com a publicação do relatório Delors em 1996. Nessas publicações, ocorreu uma mudança de perspectiva que alterou o foco em educação formal e curricular para focar em processos de aprendizagem constante ao longo do ciclo da vida.


No relatório Delors, foram estabelecidos os seguintes quatro pilares de aprendizagem: Aprender a conhecer; Aprender a fazer; Aprender a conviver; Aprender a ser. Muitos benefícios são atrelados ao Lifelong Learning, como o constante desenvolvimento de habilidades, conhecimentos e valores para os indivíduos, a consequente construção de comunidades mais inovadoras e o fortalecimento da economia.


Embora a transformação dos processos educacionais pareça promissora, estamos encontrando estratégias para conduzi-la? Como podemos pensá-la, de modo prático, sem cair em uma perspectiva individualizante que se abstenha de visualizar a aprendizagem como uma construção social e coletiva?



Para responder essas questões é necessário encarar dois aspectos presentes na contemporaneidade: o cansaço e a desatenção.


Cansaço


Já publicamos um artigo falando sobre esgotamento no trabalho, e esse é um dos fatores pelos quais o tema Lifelong Learning precisa ser discutido com cuidado. Conforme Han (2015) compara em seu livro ‘Sociedade do Cansaço’, diferente da Sociedade disciplinar, anteriormente pautada em um senso de dever a alguém ou à sociedade, temos agora a Sociedade do desempenho, na qual vivemos constantemente pressionados por nós mesmos a produzir.


Nosso contexto cobra atualização constante, e devemos ter cuidado para que a flexibilização dos contratos de trabalho e aprendizagem não faça com que os indivíduos sintam-se desconectados de seus ambientes e organizações, gerando o sentimento de que são isoladamente responsáveis por seus sucessos e fracassos, como se não fossem impactados pelas variáveis do meio em que vivem. Han (2015) comenta que se antes a sociedade disciplinar produzia loucos e delinquentes, hoje a sociedade do desempenho produz depressivos e fracassados, atormentados pela autocobrança e pelo enfraquecimento dos laços sociais.


Desatenção


Yves Citton (2014) em ‘Pour une écologie de l’attention’ explora o conceito de economia da atenção, explicando como, com a superabundância de informações, a atenção tornou-se um recurso escasso. Segundo ele, em um cenário no qual existem mais produtores do que consumidores, a gratuidade no acesso aos bens culturais nada mais é do que o preço pago pela nossa atenção.


“Conforme a justiça e a lógica, sou eu, autor dessas linhas, que deveria não apenas agradecer a vocês, mas pagar pelo favor que me fazem ao dedicar seu tempo tão precioso à leitura desse livro, e não aos milhões de textos, canções ou filmes oferecidos na internet.” Yves Citton, em: Da economia à ecologia da atenção. Ayvu: Revista de Psicologia, v. 5, nº1, 2018


Fato é que a simples oferta de informações, cursos e produções não é suficiente para nos engajarmos. Além disso, carecemos de planejamento e curadoria de conteúdos que sejam condizentes com nossas trajetórias profissionais. Como, então, podemos encontrar motivação e estratégias para cultivar o aprendizado constante?


Alternativas


Embora nosso meio nem sempre pareça nos auxiliar nesse processo, é importante ressaltar que possuímos, biológica e filosoficamente, os atributos necessários para cultivar aprendizado constante. Citton (2014), ao refletir sobre atenção, também defende que “um ser só pode continuar existindo se conseguir “prestar atenção” àquilo de que a reprodução de sua forma de vida depende”.


Pensando dessa forma, em um mundo no qual somos bombardeados por estímulos e informações que não condizem com nossas necessidades, mesmo a desatenção pode ser considerada um aprendizado e uma estratégia importante para nossa sobrevivência. Uma alternativa, portanto, é encontrar meios que fortaleçam a conexão dos indivíduos com seus propósitos, com suas comunidades e com suas organizações, trazendo sentido à aquisição de conhecimentos e habilidades. A tecnologia tem fomentado algumas estratégias que podem auxiliar esses processos:


Experiência: O modo como os indivíduos entram em contato com os conteúdos é tão importante quanto os conteúdos em si. Pesquisas em Experiência do Usuário (UX Design) buscam otimizar o contexto no qual as informações são repassadas, tornando-as mais intuitivas, acessíveis e atraentes para gerar aproximação com seus públicos. Esses princípios também podem ser utilizados para elaboração de contextos que favoreçam a aprendizagem.


Curadoria: Determinados públicos se interessam mais por determinados assuntos. Uma exposição de arte normalmente possui uma temática que rege a seleção de suas obras. Redes sociais fazem uso de algoritmos que aprendem sobre o padrão de conteúdos consumidos por seus usuários, de modo a dar maior visualização para informações que façam parte de categorias semelhantes. A prática de Data Driven Business visa implementar esse mesmo princípio às empresas, utilizando seus dados para gerar insights que as aproximem de seus clientes e colaboradores. No caso dos colaboradores, torna-se mais fácil identificar seus potenciais de crescimento e interesses de aprendizagem, facilitando a orientação de planos de carreira e fortalecendo a cultura da empresa.


A Nômade vem desenvolvendo pesquisas e prototipando soluções em aprendizagem corporativa. Tem interesse nesses temas ou busca otimizar a aprendizagem dos colaboradores em sua empresa? Entre em contato para saber como podemos te auxiliar:https://www.estudionomade.com.br/contato

bottom of page