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Mentorias: Existem fundamentos por trás da prática?



A oferta de mentorias aumentou muito nos últimos anos. Se fizermos uma rápida busca pelo termo no Google Trends, é possível visualizar que essa expansão tem se tornado particularmente marcante desde 2020, quando começou a atingir cerca de 50 pesquisas mensais, e encontra-se atualmente no topo, com mais de 100 pesquisas no mês de Setembro. A definição e a aceitação dessa prática, contudo, tem sido ambígua. Ela pode ser aplicada a diversas áreas de conhecimento e da vida, e com diferentes metodologias, originando uma série de questionamentos: Trata-se de um processo coletivo ou individual? Pressupõe uma relação hierárquica ou horizontal? Deve possuir uma estrutura de aplicação? É só uma nova forma de vender cursos? Possui fundamentação?



*Nuvem de palavras com termos encontrados ao buscar artigos sobre o Mentorias.



Nesse artigo, iremos abordar o conceito de mentoria a partir de alguns pressupostos da metodologia ágil, pensando em como eles dialogam com a ciência dos processos criativos. Embora o Agilismo seja muito aplicado ao desenvolvimento de tecnologias, refletindo aspectos de organização e eficiência, seus valores visam a priorização das pessoas e de suas interações frente aos processos.


Dentre seus princípios, encontram-se a valorização do ambiente e do processo de desenvolvimento, permitindo que os sujeitos sintam-se motivados e aprendam com seus erros; o respeito à autonomia dos colaboradores, confiando que eles farão seu trabalho; e a valorização de acompanhamento e conversas cara a cara entre toda a equipe, possibilitando reflexões constantes sobre o trabalho desenvolvido. A presença desses princípios proporciona ambientes que valorizam o protagonismo e o aprendizado constante entre os colaboradores.


Existentes desde a Grécia Antiga, as mentorias objetivam uma relação de acompanhamento e troca de saberes entre mentor e mentorado, sendo pensadas de forma conjunta e considerando seus repertórios. Elas podem ser aplicadas de muitas formas — individual ou coletiva, estruturada ou livre, presencial ou à distância —, mas assim como no Agilismo, o cerne de sua constituição está na valorização da experiência dos indivíduos, da autonomia e do acompanhamento contínuo. Aspectos presentes na fundamentação científica dos processos criativos.


No artigo The scientific study of inspiration in the creative process: challenges and opportunities, Oleynick et al. explicam a teoria de Thrash e Elliot (2003), dois cientistas que estudaram a inspiração como um construto psicológico, e propuseram que ela é composta por três fundamentos centrais: um momento de evocação, um momento de transcendência e um momento de motivação.


A fase de evocação é iniciada por algum fator externo, podendo ser um estímulo, uma ideia, ou uma outra pessoa. A partir dessa evocação, os sujeitos ganham consciência de novas possibilidades que transcendem suas preocupações comuns. Por fim, o estado de motivação diz respeito a uma ação que possibilita o compartilhamento dessas novas possibilidades.


Os pesquisadores também apontam que a inspiração diferencia-se da criatividade e do insight. Enquanto a criatividade é uma avaliação sobre a utilidade de um conteúdo trabalhado que pode ser aplicado em qualquer momento do processo criativo, a inspiração pressupõe o estado motivacional, que resume-se a uma atitude para colocar a avaliação criativa em prática, desenvolvendo um produto. O insight, por sua vez, diz respeito ao momento em que novas ideias e entendimentos surgem à consciência, mas também não pressupõe uma ação. Ele precisa de um contexto propício ao compartilhamento para que possa desdobrar-se em inspiração.


Para que os processos criativos se desenvolvam, portanto, é importante que os sujeitos sintam-se livres para explorar seus ambientes de trabalho e tenham trocas de conhecimento contínuas (evocação) que os permitam acessar novos insights (transcendência), posteriormente traduzindo-os em novos desenvolvimentos (motivação).

O papel das mentorias consiste no acompanhamento e na facilitação desses processos, que nem sempre são lineares e, embora se expandam com o desenvolvimento de habilidades técnicas, também podem ser enriquecidos com os erros, pois esses abrem espaço para a percepção de possibilidades.



Ainda que nem todas as ofertas de mentorias trabalhem com esses princípios, acreditamos que eles podem ser um ponto de partida interessante para encontrar uma mentoria que faça sentido. Esperamos que esse artigo possa te ajudar nessa busca.


Estamos disponíveis para conversar sobre nossas iniciativas em aprendizagem e mentoria, vamos?



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