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  • Aline Cereja

A IMPORTÂNCIA DE COCRIAR VISUALIDADES PARA PROCESSOS COMPLEXOS

Atualizado: 20 de jul. de 2020



Os projetos que vivemos na Nômade trabalham com a imprevisibilidade e com múltiplas variáveis, eles são criados e executados por diversas pessoas, as quais vivem diferentes contextos e ambientes, o que os tornam projetos complexos. A projetação da complexidade, como diz Caio Vassão, é concreta e abstrata, para projetarmos ela se faz necessária a criação de dispositivos gráficos que auxiliam sua concretização e compreensão.

Com o objetivo de proporcionarmos maior clareza e autonomia nestes processos, construímos na Nômade a prática de criar infográficos que contribuem para a explicação dos mesmos, o que chamamos de desenho do fluxo projetual.

Nos projetos que vivenciamos temos a oportunidade de conhecer e construir com diferentes grupos: colaboradores de organizações, fornecedores, sociedade civil; o que proporciona percepções e interpretações distintas sobre os projetos e as suas etapas. Diferentes sujeitos, diferentes significados, diferentes interpretações. Ainda que as múltiplas leituras contribuam para o desenvolvimento do projeto, o entendimento comum sobre sua estrutura é essencial para que os envolvidos estejam alinhados sobre seu andamento. Identificando a carência de unidade de entendimentos nos processos que iniciamos a prática de fazer os desenhos dos fluxos projetuais.

Fluxo do processo de descoberta que trabalhamos com o time de RH Engie Brasil, onde ajudamos a criar os direcionamentos e orientações para a equipe se desenvolver como um agente da mudança na organização.

Quando criamos fluxos projetuais, nos propomos a transformar uma informação complexa em uma representação visual, nos colocando primeiro no papel do receptor e depois do transmissor. Somos receptores quando escutamos as pessoas e as suas percepções, e nos transformamos em transmissores quando traduzimos os processos em desenhos. Esta criação é a tentativa da transição do imaterial, o que está na mente das pessoas, para o material, o desenho de um processo que carrega meses de trabalho e horas de dedicação.

A concepção destes desenhos é o desenvolvimento de uma estrutura gráfica que contenha e que represente momentos, tempos, métodos, pessoas, organizações, diferentes interações e outros elementos que possam vir a integrar o processo. Essa estrutura gráfica é a convergência da informação em forma, cor, composição, não é a simplificação nem a síntese, mas sim uma tradução gráfica que se dá a partir da disposição e hierarquia das informações em um canal.

Um dos grandes desafios é ter o cuidado para não atingir um nível de abstração que anula o propósito principal da existência do desenho: a compreensão. A essência desta construção é desenhar processos para traduzir a complexidade. É o fazer entender, dar acesso e mais clareza à informação que antes estava confusa ou de difícil entendimento.

É o nosso papel, enquanto designers, se colocar como transmissor, aquele que, para além da aplicação técnica do conhecimento visual, sabe ouvir as diferentes opiniões e sugestões sem deixar a literalidade da interpretação individual prevalecer.

A nossa proposta, como designers da Nômade, que desenvolvemos a habilidade de participar destas construções coletivas, é colocar nosso conhecimento à disposição e se abrir para escutar o que as pessoas têm para contribuir e criticar, encontrando um espaço verdadeiro de troca e construção para traduzir as informações dos projetos em comunicação visual.

Alguns dos fluxos possuem outra camada de complexidade, são os desenhos dos processos mutáveis, que estão em constante transformação e adaptação. Nestes casos, o desenho do fluxo projetual tem a necessidade de ser construído junto com as pessoas que vivem o processo. A abertura da criação faz com que a prática seja intensificada e que a construção do desenho se torne mais desafiadora. Por ser mutável e conduzido por diferentes pessoas, o desenho deve se adequar ao processo, o que acarreta em uma série de revisões e alterações do desenho original. Esta cocriação, por vezes, provoca desgaste e esgotamento, porém são estes momentos de desconstrução e construção que geram um resultado que faça sentido para as pessoas.

A Nômade teve o desafio de auxiliar a Mercur a desenhar o Fluxo de Relacionamento, Desenvolvimento e Produção do Diversidade na Rua para dar suporte no entendimento comum das diferentes etapas que este processo está vivendo e viverá. A construção coletiva do desenho experienciou uma série de alterações, momentos de desconstrução e construção, com o objetivo de ter a evolução da visualidade que representasse a essência da estratégia, seus desdobramentos e interações com as pessoas.

Diferentes versões do desenho do Fluxo de Relacionamento, Desenvolvimento e Produção.

A cocriação do desenho foi uma experimentação constante, onde se teve muitas idas e vindas, desenhos e redesenhos, trocas e diálogos. A última versão* do Fluxo de Relacionamento, Desenvolvimento e Produção, que pode ser vista abaixo, é a sexta versão.

Os elementos representados no fluxo tentam traduzir como a Mercur e o Diversidade na Rua conduzem e vivem diferentes momentos de interação com a rede, e como estão desenvolvendo novas lógicas de produção. Estas têm como base a colaboração e a participação da sociedade, buscando entender as reais necessidades das pessoas e disponibilizando seu conhecimento e estrutura para oferecer soluções que façam sentido para todos.

Última versão do Fluxo de Relacionamento, Desenvolvimento e Produção. *Alguns textos do Fluxo foram modificados para preservação do conteúdo estratégico da Mercur.

Nos diferentes projetos que vivenciamos, aprendemos que tão importante quanto criar visualidades que auxiliam a compreensão de processos complexos, é fazer essa construção com outras pessoas, as quais são cocriadoras e coexecutoras do processo que está representado, elas orquestram e articulam novas lógicas de solucionar necessidades.

Os processos e as visualidades se tornam mais potentes com a construção coletiva, ela nos abre a possibilidade para que possamos trocar e compartilhar nosso conhecimento e utilizá-lo como ferramenta de transformação.

Esse texto foi escrito pela Aline Cereja e enviado para quem assina o Gulliver, a newsletter da Nômade.

 

Quer se aprofundar sobre o assunto?

Seguem algumas referências que foram consultadas para este artigo:

VASSÃO, Caio. Metadesign: ferramentas, estratégias e ética para a complexidade. São Paulo: Blucher, 2010.

CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

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