Diferente da “missão” ou da “visão” organizacional, o propósito não é algo criado, mas sim descoberto.
Frederic Laloux, junto com outros autores contemporâneos de diferentes linhas de pesquisa, apontam para uma mudança gradual nas organizações por conta da “evolução crítica” na sua maturidade. Diferente da visão clássica de sucesso, baseada em otimização de resultados financeiros, hoje, o prestígio e a valorização pendem para o lado de abordagens que focam no compromisso com os impactos, fazendo as organizações assumirem suas responsabilidades socioambientais.
Dentro desse contexto, o conceito de propósito vem ganhando ainda mais relevância. Neste artigo, nos propomos a explicar por que isso acontece e como as organizações podem descobrir o seu próprio propósito organizacional. Boa leitura!
Viktor Frankl e a logoterapia
A definição de propósito organizacional possui origens em diferentes abordagens, entre elas, destacam-se as contribuições do neuropsiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl, que ficou conhecido pelo seu testemunho dramático como um prisioneiro dos campos de concentração nazistas em seu livro Em Busca de Sentido.
Frankl desenvolveu o conceito de logoterapia, também chamada de Terceira Escola Vienense de Psicoterapia, pois se distingue dos conceitos anteriores de psicoterapia criados por Freud (Psicanálise) e Adler (Psicologia Individual). Na logoterapia, a abordagem psicoterapêutica está fundamentada na busca pelo sentido da vida, ou sentido existencial.
Segundo Frankl, a vida humana sempre tem um sentido, independente das circunstâncias, pois os seres humanos sempre buscam esse sentido, tanto para a sua existência, quanto para um contexto. Logo, o sentido seria a motivação primária das pessoas, assim que elas o realizam, isso lhes dá uma perspectiva de futuro. Esse insight veio da experiência de Frankl ao observar que os prisioneiros nos campos de concentração que tinham a cabeça voltada para o futuro eram os mais propensos a sobreviverem àquela provação, pois conseguiam vislumbrar e sonhar com um algo após a prisão.
Missão e Valores X Propósito
No caso do propósito organizacional, também temos outras contribuições, como, por exemplo, as descobertas da neurociência que vêm desvendando o quanto as emoções e o sentir conduzem a razão do ser humano de forma mais potente (Leonard Mlodinow). Podemos dizer, então, que a ideia central contida no propósito organizacional está fundamentada na sensação de sentido como uma intenção em comum, que conecta as pessoas dentro da organização.
Por essa razão, o propósito organizacional se difere de outros propósitos como a “missão” ou a “visão” da organização. Isso porque, ele não é algo que pode ser criado e imposto, pois é da ordem existencial e precisa ser descoberto pelas pessoas que representam o fazer do negócio.
Durante muito tempo, trabalhamos com a ideia de missão e visão, por isso, elas se confundem com o propósito. Contudo, com a evolução cultural do nível de consciência (Frederic Laloux, 2018), as ideias de missão e visão passaram a não serem o suficiente. Isso porque, esses são conceitos autocentrados, ou seja, eles são criados e idealizados pela organização como algo de dentro para fora, muito mais próximos da intencionalidade, ex: “ser a maior empresa do segmento X oferecendo o melhor serviço Y”. Isso pressupõe um olhar bastante linear para as relações da organização com o seu público.
O propósito surge da ânsia de novas organizações, ou algumas em transição, que passam a perceber que precisam ir além das trocas transacionais para se conectarem com algo maior do que oferecer soluções na forma de produtos ou serviços. Portanto, a ideia de "ter um propósito" surge já diretamente comprometida com um olhar para os impactos que gera, pois está concebido dentro de uma perspectiva sistêmica, que contempla a complexidade das relações, planeta e sociedade.
Então, descobrir o propósito é encontrar algo que faça a diferença em algo que o mundo precisa para além do negócio. A Singularity University deixa bem claro esse conceito quando o explica com a ideia de MTP = Massive Transformative Purpose. Ter um propósito não é apenas "saber aonde se quer chegar", ou "ter boas intenções para o mundo". É se conectar com algo que mobiliza verdadeiramente um sentido de existência para além da sua própria.
Como encontrar o propósito organizacional?
O Propósito Organizacional é descoberto a partir de um processo de análise introspectiva realizado pelos fundadores e ou dirigentes da organização, pois são eles que se responsabilizam pelo seu funcionamento e, portanto, compartilham seu propósito com todos os colaboradores que optam por fazer parte e contribuir com suas intenções. Logo, a principal variável do propósito são as pessoas que pulsam com ele. Todas as organizações são compostas por pessoas que cultivam seu propósito individual, que poderão estar mais ou menos alinhados com a organização.
Esses propósitos sempre estarão em conflito, mas não necessariamente de forma negativa. A questão é que cada pessoa sempre terá um propósito individual, e se a organização deixar claro o seu, fazendo com que existam momentos para os colaboradores conhecerem e se apropriarem dele, essa integração pode acontecer de maneira mais potente. Então, a empresa deve sempre deixar claro qual é o seu propósito, para facilitar a conexão das pessoas com ele.
Ter essa clareza é um processo constante de gestão de conhecimento e aprendizagem, de forma que os pilares que constituem o propósito sejam revisitados e renovados, sem perder sua força essencial. O propósito organizacional deve se manifestar em cada atitude do dia a dia, por meio de rituais e símbolos que traduzem essa essência em cada detalhe da experiência (para colaborador e cliente).
Esse é um trabalho específico da Gestão de Pessoas e Cultura. A Nômade já atuou auxiliando empresas nesse sentido, em diversos projetos. Nós trabalhamos facilitando a conexão das organizações com o seu sentido, a partir do processo da sua descoberta, ou na materialização em programas de engajamento e alinhamento cultural. Contribuímos para que a organização seja mais clara na proposição do seu propósito, obtendo mais conexão com as pessoas, colaboradores e sociedade.
Veja alguns dos nossos projetos voltados para a descoberta do propósito organizacional:
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