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Larissa Lazzari

CONSTRUINDO PAPÉIS EM CONTEXTOS ORGANIZACIONAIS MUTANTES

Atualizado: 22 de jul. de 2020


Transverse Line (1923) — Wassily Kandinsky

É conhecido que modelos clássicos organizacionais, com gestão pelo controle em estruturas verticalizadas e departamentalizadas, estão sendo colocados à prova. Transformações sociais e culturais tomam força e impactam os negócios, principalmente no que diz respeito ao mais complexo ativo das empresas: as pessoas.

Podemos citar alguns conceitos que foram apresentados nas últimas décadas que mostram como diferentes caminhos se abriram ou estão se abrindo para as organizações no século XXI. Um exemplo na área de desenvolvimento humano foi o surgimento do modelo de carreira “W”, que possibilita a escolha de uma atuação transversal para profissionais, ao invés de precisar, obrigatoriamente, seguir por uma trajetória linear de evolução de cargos, ou dois perfis, como no modelo “Y”.

Imagem da autora inspirada em diferentes textos que falam sobre modelos de carreira.

O artigo Future Fit Leading: Manifesting A Revolution In Consciousness mostra uma visão mais ampla sobre a transformação nas organizações e apresenta visualidades que diferem do sistema tradicional hierárquico, em contrapartida à lógica de sistemas vivos. A imagem abaixo ilustra, à esquerda, um organograma verticalizado com hierarquia bem clara e, à direita, uma rede com diversas formas de inter-relações. O artigo cita que os negócios passam por uma revolução na qual divergência e convergência são forças essenciais para as dinâmicas futuras nas empresas. Por um lado, o ambiente é tencionado através de diferentes visões e empoderamento das equipes para tomarem suas próprias decisões (estímulo à divergência). Por outro, temos um senso de propósito comum que unifica as intenções de toda a organização (estímulo à convergência).

Imagem extraída do artigo Future Fit Leading: Manifesting A Revolution In Consciousness

Também podemos citar como exemplo a holocracia, um sistema de gestão oficializado em 2007 que visa adotar maior agilidade na tomada de decisão, distribuindo o poder hierárquico a todos os funcionários. Ao invés de cargos, as pessoas possuem papéis, com tarefas claras e situacionais, assim se auto-organizam para definir a melhor forma de chegar em determinado resultado. Em comum, as ideias holocráticas revelam a presença de profissionais multitarefa, mais autônomos em relação às suas atividades e com uma maior visão sistêmica (olhar para o todo nas suas relações interdependentes). Na prática, uma mesma pessoa pode assumir diversas atividades e formas de atuação dentro desse contexto mutante.

Independente do sistema de gestão, o mais importante é um olhar verdadeiro sobre os processos internos da organização, um entendimento profundo sobre a sua cultura e uma tomada de consciência sobre que tipo de lógica se tem capacidade de assumir. Não existe um modelo correto, existe aquele que tem maior capacidade de fluir em determinado contexto. A transformação para novas estruturas passa por uma mudança de modelo mental que se reflete em atitudes e hábitos.

Em 2017, repensamos a cultura de análise, monitoramento e controle dos projetos da Nômade. Ao entendermos nosso fluxo de trabalho — que passou por analisar responsabilidades de cada um nas tarefas — identificamos formas de atuação flutuantes e paralelas dentro de um mesmo projeto. Uma característica marcante nas nossas relações é o respeito às contribuições individuais e olhares estrangeiros em cada entrega, pois somos um time heterogêneo buscando soluções singulares para os projetos. Isso gerou uma forma própria da Nômade de representar as pessoas envolvidas em cada entrega.

Imersão Nômade

Após um processo imersivo, de escutas e observações mais informais e sensíveis, identificamos dois papéis centrais no nosso dia a dia: o Guardião e o Mobilizador da Entrega. O primeiro orienta o que tem que ser feito, sugere os momentos de interação da equipe e quem pode contribuir, e também valida sua conclusão. O papel de Mobilizador atua na inteligência da entrega, questiona o briefing, dá forma ao trabalho e cuida do seu desenvolvimento. Os dois papéis tem o mesmo compromisso e responsabilidade com a entrega, porém o perfil da sua ação é diferente. A troca de informações entre esses papéis são constantes para que expectativa e resultado mantenham-se alinhados. Outra característica é a sua flexibilidade: uma pessoa pode estar representando essas diferentes funções ao mesmo tempo e pode dividi-la com outros colegas dentro de uma mesma entrega.

Fluxograma Nômade dos momentos de atuação dos papeis.

Se esses papéis facilitam a compreensão de processos dinâmicos, o papel de Gerente de Projetos, acolhido pela Nômade, possibilitou que as demandas tivessem uma distribuição cuidadosa, um olhar atento sobre pontos de atenção de cada projeto, lacunas não preenchidas e o planejamento da sua execução. A importância da figura do Gerente de Projeto é ter uma visão do todo e assim conseguir auxiliar na tomada de decisões que podem melhorar a fluidez do desenvolvimento dos trabalhos. Em ambientes que mudam constantemente, essa função se mostra mais necessária, fazendo com que o processo de diagnóstico interno esteja em constante construção e melhoria.

Muitas vezes, as empresas buscam olhar para o mercado para descobrir como evoluir em seus processos. Porém, acreditamos que é o momento de se conectar com as pessoas que fazem a organização acontecer: colaboradores, fornecedores, clientes, entre outros da cadeia de valor, e abrir uma janela para escuta e entendimento de como os processos internos podem trazer mais sentido para a gestão do negócio. Ouvir e se inspirar no que a equipe e pares têm para contribuir pode ser a chave para aplicar novas e surpreendentes lógicas de operação. No ano que passou, potencialidades foram despertadas na Nômade, assim como aprendizados foram gerados. Um percurso que nos move a fazer mais daquilo que acreditamos e a olhar para 2018 com entusiasmo para materializar os projetos incríveis que estão vindo por aí, trazendo com eles novas possibilidades de relação e soluções construídas em conjunto.

Esse texto foi escrito pela Larissa Lazzari e enviado para quem assina o Gulliver, a newsletter da Nômade.


 

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Quer se aprofundar sobre o assunto?

Seguem algumas referências que foram consultadas para este artigo.

https://exame.abril.com.br/carreira/uma-via-de-tres-maos/

https://thenatureofbusiness.org/2017/08/08/future-fit-leading-manifesting-a-revolution-in-consciousness/

http://projetodraft.com/verbete-draft-o-que-e-holocracia/

https://pt.linkedin.com/pulse/gestor-ou-t%C3%A9cnico-os-dois-conhe%C3%A7a-carreira-em-w-alfredo-morais

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